Com essa indagação fico pensando que podemos tomar
a evolução do carnaval no Brasil do século passado como um recorte explicativo
das transformações e manutenções do poder ocorridas nacional e
internacionalmente na sociedade.
Começamos o século com uma grande tensão
internacional, que veio degenerar em uma guerra mundial com suas centenas de
milhares de mortes, mas tínhamos Carmem Miranda para animar as tropas com suas
marchinhas e chanchadas.
Como a Primeira Grande guerra engatilhou a Segunda
e a revolução de 1930, a Era Vargas, também o Brasil evoluía em sua capacidade
de vencer-se no que tinha de mais peculiar: sua afinidade irrefletida para a festa
sem se ter o que festejar! E, assim,
saímos dos salões de bailes e ganhamos as ruas, não para protestar e levantar
nossas vozes, mas para crescer a festa e a voz dos que jogavam confetes e
serpentinas para o nazi-fascismo que imperava lá e cá. E, então, em meados de
1940, consolida-se um novo modelo de relações internacionais, período que
também foi batizado com nome de guerra – Fria. E na Terra Brasilis?
Bem, aqui surge o trio elétrico e uma tentativa democrática, que fracassa pelo
Golpe Militar de 1964 e reforça a ideia de que atrás do trio elétrico só não
vai quem já morreu ( nos porões da Ditadura). E o único coro que valeria a pena
( o dos descontentes) é amordaçado pela censura.
Voltamos a ter uma tentativa de democracia: Diretas
Já! O Tio Sam nos permite uma certa autonomia política, mas não econômica; a
divida interna e externa crescem e a indústria fonográfica também: explode o
axé e o carnaval se internacionaliza para o novo mundo globalizado.
Somos atração para o globo, um modelo de (anti?)
cultura. Dominamos o mundo em fevereiro! Apimentamos Woodstock, com isso,
'sexo, drogas e rock’n’rol' tornam-se prostituição, drogas e gingado tipo
exportação.
Em última análise, sociologicamente falando,
carnavalizamos a miséria, a corrupção e a divisão de classes com uma única
corda, que separam os associados dos que pulam fora do trio (carinhosamente
conhecidos como ‘pipocas’). Que antes todos pulassem fora da alienação e
engrossassem a marcha dos protestos que sempre existem, pois esse pode ser o
país do carnaval, mas não pode ser, com certeza, o nosso país.
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