07 fevereiro 2013

Sobre o carnaval

É próprio da raça humana a celebração, a festa, seja ela religiosa ou profana, seja coletiva ou particular. Mas o que é celebrar? Celebrar é realizar, festejar, comemorar com solenidade, exaltar; enaltecer, elogiar publicamente. Mas o que temos para celebrar?

Com essa indagação fico pensando que podemos tomar a evolução do carnaval no Brasil do século passado como um recorte explicativo das transformações e manutenções do poder ocorridas nacional e internacionalmente na sociedade.

Começamos o século com uma grande tensão internacional, que veio degenerar em uma guerra mundial com suas centenas de milhares de mortes, mas tínhamos Carmem Miranda para animar as tropas com suas marchinhas e chanchadas.

Como a Primeira Grande guerra engatilhou a Segunda e a revolução de 1930, a Era Vargas, também o Brasil evoluía em sua capacidade de vencer-se no que tinha de mais peculiar: sua afinidade irrefletida para a festa sem se ter o que festejar!  E, assim, saímos dos salões de bailes e ganhamos as ruas, não para protestar e levantar nossas vozes, mas para crescer a festa e a voz dos que jogavam confetes e serpentinas para o nazi-fascismo que imperava lá e cá. E, então, em meados de 1940, consolida-se um novo modelo de relações internacionais, período que também foi batizado com nome de guerra – Fria. E na Terra Brasilis? Bem, aqui surge o trio elétrico e uma tentativa democrática, que fracassa pelo Golpe Militar de 1964 e reforça a ideia de que atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu ( nos porões da Ditadura). E o único coro que valeria a pena ( o dos descontentes) é amordaçado pela censura.

Voltamos a ter uma tentativa de democracia: Diretas Já! O Tio Sam nos permite uma certa autonomia política, mas não econômica; a divida interna e externa crescem e a indústria fonográfica também: explode o axé e o carnaval se internacionaliza para o novo mundo globalizado.

Somos atração para o globo, um modelo de (anti?) cultura. Dominamos o mundo em fevereiro! Apimentamos Woodstock, com isso, 'sexo, drogas e rock’n’rol' tornam-se prostituição, drogas e gingado tipo exportação.

Em última análise, sociologicamente falando, carnavalizamos a miséria, a corrupção e a divisão de classes com uma única corda, que separam os associados dos que pulam fora do trio (carinhosamente conhecidos como ‘pipocas’). Que antes todos pulassem fora da alienação e engrossassem a marcha dos protestos que sempre existem, pois esse pode ser o país do carnaval, mas não pode ser, com certeza, o nosso país.

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