15 maio 2010

Cuba e a esquerda brasileira

Existem centenas de prisioneiros políticos em Cuba. Eles são torturados, humilhados, destruídos como seres humanos. E ainda pior: muitos nem sabem por que estão presos. A localização do presídio é bem conhecida, mas são proibidas – ou restritas e vigiadas ao máximo – as visitas ao local de organizações que defendem os direitos humanos. Os prisioneiros não podem se comunicar com o mundo exterior, não têm acesso à internet nem a telefones celulares. Não sabem por quanto tempo ainda ficarão detidos nem mesmo se e quando serão levados a julgamento. Em resumo: eles apenas vegetam na prisão. Vagam como fantasmas, num espaço cercado por arames farpados, câmeras de vigilância e soldados fortemente armados. E o mais incrível vem agora: o maior responsável por essa situação foi contemplado, em 2009, com o Prêmio Nobel da Paz. Seu nome: Barack Obama, presidente dos Estados Unidos; a prisão fica em Guantánamo, base militar estadunidense na ilha.

É verdade que, de vez em quando, a situação dos presos de Guantánamo é objeto de alguma reportagem na mídia dos patrões. Mas nada que se possa comparar, sequer remotamente, ao tremendo barulho provocado pela morte do cubano Orlando Zapata, em 23 de fevereiro, por greve de fome. Aparentemente Zapata participava de um grupo de oposição ao regime castrista, embora, segundo o governo de Havana, se tratava de um prisioneiro comum. No Brasil, o assunto virou eixo de campanha da mídia. Se um marciano pousasse aqui no mês de março e se informasse sobre os fatos do mundo pelo Jornal Nacional e outros veículos semelhantes, teria a impressão de que não apenas os direitos humanos são levados muito a sério em nosso país, como, em contrapartida, o regime cubano é uma ditadura sanguinária. Mas o nosso ET pouco ou nada saberia, é claro, sobre Guantánamo.

Não se trata, obviamente, de fechar os olhos para o fato de que um prisioneiro – não importa se “comum” ou “político” – morreu por greve de fome: o caso é grave, e deve mesmo ser esclarecido. O preocupante é a agressividade hipócrita e asquerosa da direita que só é comparável ao silêncio envergonhado da esquerda, especialmente no Brasil, que, com raras exceções, preferiu se calar ou colocar-se na defensiva.

Em todo o mundo, a direita ergueu um brado indignado contra o regime cubano. Em 11 de março, o Parlamento Europeu aprovou, em tempo recorde, uma resolução que, literalmente, encosta Havana na parede. Curiosamente, o mesmo parlamento nada fez de concreto quando se comprovaram as denúncias de que a CIA (serviço secreto dos Estados Unidos) utilizou, inúmera vezes, o espaço aéreo europeu para transportar ilegalmente presos políticos acusados de “terrorismo”. Tampouco o Parlamento Europeu adotou qualquer medida contra detenções arbitrárias e racistas de imigrantes, ou mesmo contra a legalização de tropas fascistas que se especializam em “caçar” estrangeiros clandestinos, como já acontece na Itália de Berlusconi.

Por José Arbex Jr.

Fonte: Revista Caros Amigos

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