Por Emir Sader
O Brasil precisa e merece grandes espaços de debate, de reflexão, de trocas de opiniões, de elaboração coletiva. As universidades têm tido um papel, mas não tem sido suficiente. A mídia deixou de ser pluralista, abrigando praticamente só porta vozes com uma única concepção.
Precisamos de centros, de novas publicações, de um clima de efervescência no debate. Confesso que às vezes o fervor das polêmicas não favorece a assimilação dos argumentos alheios. Eu mesmo devo dizer que às vezes me deixo levar por essas polarizações, pelo fervor colocado no debate.
(Toda a entrevista à FSP foi falseada pela editorialização da matéria. Ao invés de primeiro ouvir o entrevistado, com perguntas e respostas, e depois colocar a opinião do jornal, essa mistura, com off, gerou um monstrengo, pelo qual não posso me responsabilizar. As referências, antes de tudo à Ministra da Cultura, mas também ao Gil e ao Caetano, apareceram de forma totalmente deturpada. Não houve intenção nenhuma de desqualificação, seguir polemizando nesses termos é ser vítima desse tipo de matéria, de que todos já fomos vítimas: dizer que disseram que alguém disse. Diz-se, entre outras coisas e se repete no dia seguinte, que eu fui favorável a fuzilamentos em Cuba. Que o jornal mostre as provas, porque é mais uma mentira.)
Não se pode dizer que contamos hoje com interpretações que dêem conta do que o Brasil se tornou, depois de duas décadas de grandes transformações. A visão amplamente difundida pela mídia se revelou não menos amplamente equivocada, a ponto que a vítima privilegiada do seus ataques – Lula – saiu do governo como o presidente mais popular da história do país, quem mais logrou unificar o Brasil, tendo apenas 4% de rejeição – se supõe que seja a cifra lograda pela mídia.
Por outro lado, a academia tampouco pode exibir um leque de interpretações que permitam suprir esses vazios. Os estudos avançam, se multiplicam, mas é como se as grandes abordagens, as grandes interpretações se mostrassem mais complexas e difíceis de abordar.
A imprensa brasileira nunca foi um espaço suficientemente pluralista para abrigar esses debates, mas em alguns momentos – particularmente na passagem da ditadura à democracia – se aproximou de ser um espaço que abrigou uma parte razoável dos progatonistas da vida brasileira. O alinhamento em bloco contra o governo Lula foi fatal para a imprensa, que perdeu interesse, objetividade na informação e espaços de reflexão antagônica.
Quando novas gerações se incorporam aos debates, mediante as distintas formas da nova mídia, ampliam como nunca no Brasil a possibilidade de participação de um número incalculável de pessoas, de setores e regiões distintos, o que permite a democratização das discussões de forma inaudita. Não se concebem mais conferências, mesas redondas, seminários, que não sejam transmitidos por internet on line, para que um número cem ou mil vezes maior de pessoas possam participar, intervir com pessoas, para que a gravação possa ficar acessível, ser vista posteriormente ou ser gravada.
Entramos na segunda década de um século que promete ser ímpar para o Brasil e a América Latina. Os processos históricos têm avançado mais rapidamente que a reflexão e as propostas conscientes e globais sobre seus destinos. Existem muitas interrogações de cuja resposta depende o tipo de sociedade que vamos ter ao final da primeira metade do século. É um desafio aberto, mas ao nosso alcance, contanto que preenchamos a distância entre a prática e a teoria, os processos reais, a consciência deles.
O Brasil precisa e merece grandes espaços de debate, de reflexão, de trocas de opiniões, de elaboração coletiva. As universidades têm tido um papel, mas não tem sido suficiente. A mídia deixou de ser pluralista, abrigando praticamente só porta vozes com uma única concepção.
Precisamos de centros, de novas publicações, de um clima de efervescência no debate. Confesso que às vezes o fervor das polêmicas não favorece a assimilação dos argumentos alheios. Eu mesmo devo dizer que às vezes me deixo levar por essas polarizações, pelo fervor colocado no debate.
(Toda a entrevista à FSP foi falseada pela editorialização da matéria. Ao invés de primeiro ouvir o entrevistado, com perguntas e respostas, e depois colocar a opinião do jornal, essa mistura, com off, gerou um monstrengo, pelo qual não posso me responsabilizar. As referências, antes de tudo à Ministra da Cultura, mas também ao Gil e ao Caetano, apareceram de forma totalmente deturpada. Não houve intenção nenhuma de desqualificação, seguir polemizando nesses termos é ser vítima desse tipo de matéria, de que todos já fomos vítimas: dizer que disseram que alguém disse. Diz-se, entre outras coisas e se repete no dia seguinte, que eu fui favorável a fuzilamentos em Cuba. Que o jornal mostre as provas, porque é mais uma mentira.)
Não se pode dizer que contamos hoje com interpretações que dêem conta do que o Brasil se tornou, depois de duas décadas de grandes transformações. A visão amplamente difundida pela mídia se revelou não menos amplamente equivocada, a ponto que a vítima privilegiada do seus ataques – Lula – saiu do governo como o presidente mais popular da história do país, quem mais logrou unificar o Brasil, tendo apenas 4% de rejeição – se supõe que seja a cifra lograda pela mídia.
Por outro lado, a academia tampouco pode exibir um leque de interpretações que permitam suprir esses vazios. Os estudos avançam, se multiplicam, mas é como se as grandes abordagens, as grandes interpretações se mostrassem mais complexas e difíceis de abordar.
A imprensa brasileira nunca foi um espaço suficientemente pluralista para abrigar esses debates, mas em alguns momentos – particularmente na passagem da ditadura à democracia – se aproximou de ser um espaço que abrigou uma parte razoável dos progatonistas da vida brasileira. O alinhamento em bloco contra o governo Lula foi fatal para a imprensa, que perdeu interesse, objetividade na informação e espaços de reflexão antagônica.
Quando novas gerações se incorporam aos debates, mediante as distintas formas da nova mídia, ampliam como nunca no Brasil a possibilidade de participação de um número incalculável de pessoas, de setores e regiões distintos, o que permite a democratização das discussões de forma inaudita. Não se concebem mais conferências, mesas redondas, seminários, que não sejam transmitidos por internet on line, para que um número cem ou mil vezes maior de pessoas possam participar, intervir com pessoas, para que a gravação possa ficar acessível, ser vista posteriormente ou ser gravada.
Entramos na segunda década de um século que promete ser ímpar para o Brasil e a América Latina. Os processos históricos têm avançado mais rapidamente que a reflexão e as propostas conscientes e globais sobre seus destinos. Existem muitas interrogações de cuja resposta depende o tipo de sociedade que vamos ter ao final da primeira metade do século. É um desafio aberto, mas ao nosso alcance, contanto que preenchamos a distância entre a prática e a teoria, os processos reais, a consciência deles.
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