18 novembro 2011

Defina a mulher. Transforme-a em fruta.

Algumas coisas ganham seus nomes, justamente por serem insuficientes, ou inexistentes. Liberdade por exemplo, qual significado teria se simplesmente fossemos livres? E se não buscássemos a liberdade? Por que definir algo, que não precisa de definição?

Neste viés, a intragável luta por direitos se choca com a intolerável e abundante vulgarização do estereótipo feminino, que de frágil, passou a forte, a fruta, de preferência, fruta proibida. Aos hipócritas e aos machistas de meia calça, mulher pelada às nove horas da noite, pintada na cor do carnaval, é símbolo de liberdade de expressão, é arte, cultura e tradição. Aos olhos das mulheres inibidas pelo conservadorismo neoliberalista, é um desrespeito a classe, uma vergonha explicita. Aos olhos do sistema econômico burguês, mulher é mercadoria, é objeto de desejo, e de consumo, e muitas vezes, se pode comprar. Mulher está na moda, desde os primeiros anos do século XX, quando lutaram por melhores condições de trabalho e de vida, e também por seus direitos ao voto. Lutaram e lutam para se equipararem aos homens ou para passarem os homens? E passaram, passaram longe e chegaram perto de uma vaidade hostil que se impregnou na visão multifacetada, que nós, homens, abstraia, nós seres humanos construímos dia após dia a respeito da mulher, que no âmbito da divisão de classes, rotula-se como independente, auto gestora, consciente de seu papel social, multifuncional, questionadora, arbitrária de suas próprias ações e muito, além disso, acima de qualquer julgamento masculino sob a pena do machismo indissolúvel, contudo a mercê de sua própria condenação, a por uma eternidade, manter-se fruta, sem casca, e muitas vezes, sem conteúdo.

Sobrepõe-se a mulher até mesmo as próprias mulheres, a família, a valorização não só de seu valioso hímen, como de sua comovente caminhada rumo à valorização de si, enquanto coisa, enquanto objeto de troca. Tem bunda no seguro, e não segura mais as pontas, mas segura todas as pontas, desfigurada com a descaracterização de todo seu movimento em prol de ser livre, para se auto afirmar na avenida, no sambódromo, no imaginário masculino, e nas roupas, nos nomes de fruta, na exposição despudorada e sem significados na mídia. Uma luta, cheia de pelegos.

As mulheres frutas, a nudez feminina (e também masculina) no carnaval, a mulher submissa não só ao homem, como a todas as formas de domínio, como a televisão, a beleza, a vaidade, e a sexualização precoce, são os estopins da revolução às avessas. É o caminho contrario ao que as mesmas proporam para a classe, que de classe em classe, tanto se dicotomizou, que já perdeu a classe. Caíram na armadilha ideológica burguesa, lutaram por si, e no auge de seu egocentrismo foram golpeadas com luvas de pelica, transformadas em mais uma classe dentre tantas outras, procurando definições, terminologias, que as expliquem, sem conseguirem ao menos compreender que o contexto de inserção exige abstrações no que tange o entendimento de classes, enquanto uma única. E nesse homem é homem, mulher é mulher, é que as raízes venenosas ramificaram-se, ervas daninhas se alastram por todos os lados, desfrutam de serem frutas comestíveis, e passageiras, são frutas de época, de estação, e os homens debocham da luta, sem razão, mas com razão, por que é injustificável que tantos conflitos tenham sidos findados em meia dúzia de direitos vazios, perdidos na vulgarização do corpo e da alma feminina, a qual respeito e admiro, não enquanto homem, porém, como ser humano, como individuo que preza pela totalidade e concretude nas relações humanas, sejam estas do sexo feminino, masculino, ou qual seja, sem perder de vista, que homens e mulheres são exemplos para si próprios, e seguem estes exemplos históricos, mudando, transformando, e as vezes regredindo.

Esclareça-se que não se trata aqui, ressaltar a guerra dos sexos, muito menos banalizar as conquistas históricas da mulher, que de certo são legitimas e relevantes. Não se trata de dividir mais ainda as classes, nem diminuir uma perante a outra, trata-se de não invisibilizar o cenário que se constrói a cerca dos estereótipos que levam nas costas, todas as minorias, inclusive as mulheres, que recebem as ordens difusas e paradigmáticas de como devem agir para manter a tal independência feminina, e nesse querer a liberdade, terminam por se aprisionar cada vez mais em imagens piores que criam de si mesmas. Basta notar como as meninas se vestem, brincam, imitam sua realidade adulta, deixando a inocência junto com os primeiros anos do século XX quando ser mulher era desigualdade, submissão, e deixando por roupas sensuais, conversas sobre meninos, namoro, maquiagem, vaidade. Antes a repressão tendo o fruto da inteligência, da luta, da integridade e da união do que tendo a mulher como fruta na televisão sendo o referencial de tantas outras.

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