Não tem remédio, não tem cura, não tem solução. Esta espalhado aos quatro cantos, está arraigado em cada cristão, evangélico, homofóbico, gente de boa índole, moço de família, conservador dos bons costumes, pequeno e grande burguês a ideologia burguesa, de que trabalhar é a única dignidade que resta, aos pobres mortais. Feridos em suas dignidades, os pobres desempregados, se estapeiam em filas, em vias de retrocesso, deixam seus nomes, e suas funções, estão as ordens, prontos para produzir, reproduzir, regozijar da vida assalariada. Quem diria, que o trabalho, com suas inúmeras transformações, sendo o fenômeno fundante do ser social, aquele saudoso trabalho, espontâneo, regulador das atividades biológicas, primárias, básicas, tido como intercâmbio do homem com a natureza, para a produção das necessidades reais, estivesse tão próximo, do abismo em que se encontra, abismo coberto pelo véu da mercadorização, da coisificação do homem, da fetichização das mercadorias.
A essência do trabalho estava justamente nestas relações diretas com o instrumento de trabalho, com os produtos deste trabalho, e com a real necessidade de se trabalhar. Vejam só como estamos subordinados a ideia de que o trabalho, ainda esta ligado as minhas necessidades primárias. Mas qual a relação direta que temos com o nosso trabalho, seja produtivo ou improdutivo, seja um assalariado ou um operário? Toda esta fragmentação que me distancia de quem eu sou, e das minhas reais necessidades, e como tudo isso se interliga de modo fascinante no sistema de metabolismo social do capital, só me fazem descolar-se ainda mais de tudo aquilo que até então, julgava a unica verdade. Para isso, aprendi a função dos paradigmas. Se não compreendermos as origens e as transformações do trabalho, que o subordinou as necessidades de reprodução do próprio sistema, com a fragmentação, o afastamento do sujeito da objetividade e da totalidade da produção de sua própria vida, não seremos capazes de discernir, o nosso verdadeiro papel no mundo do trabalho e das relações humanas que se inserem na sociedade capitalista.
Quem blasfemaria contra a ideologia capitalista dizendo sobre o horror de se ter que trabalhar de 8 a 14 horas diárias? Quem poria em discussão o horror de ser obrigado a viver em função de produzir coisas que não lhe dizem nenhum respeito, de ter que acordar cedo todos os dias, de fazer horas extras, de não ter tempo verdadeiramente livre? Quem atentaria contra o sistema de produção que move o mundo, que move a economia, que faz o dinheiro e as mercadorias girarem? Quem faria a critica aos lucros exorbitantemente incomparáveis em relação ao salário pago aos empregados?
Na verdade, por dentro, os trabalhadores agonizam aprisionados ao ódio que se mistura a conformação anacrônica, não exteriorizam de modo contundente, e culminam no ciclo vicioso e estático que torna imutável, incurável, é o vírus. A doença, que torna pálido, anêmico, de cama, que mata veladamente, eles inventam de tudo, televisão, praças, shoppings, ginásticas laborais, tentam manter vivos, afinal, são mão de obra, são massa, mas se morrem, eis que nascem outros tantos sem berço, sem o sangue burguês.
Me pergunte a fórmula da riqueza, e responderei, nasça rico, ou dê jeito de explorar o trabalho de outrem. Seja o dono do meio de produção, e da matéria prima, seja o intermediário dos outros homens, com seus meios de subsistência, e lucre milhões com isso. Alie-se ao mercado, a competição, ao consumismo, a alienação. Parece fácil? Se fosse, não teríamos tão poucos com o verdadeiro poder nas mãos. Assalariados que ganham mais, outros ganham menos, uns mandam, outros obedecem, e isso é tão óbvio, a classe é uma só, mas nunca vão concluir isso por si mesmos enquanto o sistema fragmentar as relações humanas e de trabalho.
Como zombies, admiram quem trabalha noite e dia sem parar, se orgulham, e dão exemplos as gerações seguintes, reproduzem os paradigmas. Mortos vivos, vão e voltam para suas casas, onde permanecem com a televisão, quando muito os livros, alguns estudam, buscam de certa forma se libertarem, estes agonizam conscientemente, de olhos abertos, com a boca seca de tanto gritar e ninguém ouvir.
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